MODERNISMO - TERCEIRA GERAÇÃO

A terceira geração modernista nasce no contexto pós 2ª Guerra Mundial e, no Brasil, depois da ditadura Vargas. Os novos tempos são de Guerra Fria e governo JK. A bomba atômica era uma realidade amedrontadora. 



Nesse cenário, vão surgir escritores que exploram a forma literária, tanto em prosa quanto em poesia, sob novos parâmetros, além de aprofundarem os conteúdos de conteúdo inovadores.
Há, em meio à crítica literária, quem considere que, nessa geração, não mais se trata de Modernismo, denominando seus autores, por vezes, de pós-modernistas. Vê-se, de fato, nessa fase, um apuro e rigor formal menos afeito ao padrão estético instaurado pelos escritores de 22. 

Os nomes de maior expressão desse momento são:
João Cabral de Melo Neto (1920-1999)
Clarice Lispector (1920-1977)
João Guimarães Rosa (1908-1967)
Ariano Suassuna (1927)
Lygia Fagundes Telles (1923)
Mário Quintana (1906-1994)

A poesia de 45, representada na obra de João Cabral de Melo Neto, edifica-se como a arte da palavra. O poeta apresenta-nos uma poesia de busca pela palavra exata, em um exercício de lapidação da palavra e do próprio poema. É uma poesia com a objetividade de uma pedra. Confira A Educação pela Pedra. Nesse poema, metonímia à produção de João Cabral, observamos a objetividade e crueza da palavra, em meio à aridez da existência retratada. Temos aí duas preocupações exemplares do poeta: a metalinguagem e a denúncia social.

 João Cabral relax total

Em certa medida, podemos dizer que João Cabral buscou fazer na poesia o que Graciliano fizera na prosa, radicalizando a experiência desse, numa linguagem que se pretende tão objetiva que, comumente, abre mão da adjetivação em seus textos, mesmo quando essa seria esperável.
Em 1955, lançaria o texto dramático Morte e Vida Severina, referência ao sofrer no Sertão. Em 1965, Chico Buarque musicaria a obra e, a partir daí, ela se torna um espetáculo permanente nos palcos de nossos teatros.

Já na prosa deparamos com duas distintas vertentes. Uma prosa de denso vasculhar psicológico em que se mergulha em busca de profundezas do ser, uma sondagem de envergadura nunca antes vista em nossa literatura, representada na obra de Clarice Lispector e de Lygia Fagundes Telles e outra de profunda reinvenção da linguagem, ambientada no espaço do Sertão, central na produção de Guimarães Rosa.  

 Clarice musa, musando

Em Clarice especialmente, veremos ainda a eclosão de uma prosa poética que reinventa os limites da produção literária, em um exercício de linguagem riquíssimo. Flagre o nível!  

Sim, quero a palavra última que também é tão primeira que já se confunde com a parte intangível do real, ainda tenho medo de me afastar da lógica porque caio no instintivo e no direto, e no futuro: a invenção do hoje é o meu único meio de instaurar o futuro. Desde já é futuro, e qualquer hora é hora marcada. Que mal porém tem eu me afastar da lógica? Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega mais. Estou em um estado muito novo e verdadeiro, curioso de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo ou escrevê-lo.
Água Viva,
Clarice Lispector (fragmento)

E é sempre bom lembrar: muita coisa publicada na web que é atribuída à Clarice, de fato, não de autoria dela. Gostaria de saber porque alguém atribui seu texto a algum nome de autor famoso. Vai saber.


Por fim, há a produção de João Guimarães Rosa que é, possivelmente, o exercício de linguagem mais radical dessa geração de escritores, em uma profusão de reinvenção permanente da própria linguagem. Isso bem se vê no trecho abaixo exemplificado, intitulado Nós, os temulentos, parte de sua obra Tutameia (Terceiras estórias). Nem vou comentar que o cara é fera.  

E, vai, uma árvore e ele esbarraram, ele pediu muitas desculpas. Sentou-se a um portal, e disse-se, ajuizado: melhor esperar que o cortejo todo acabe de passar...
E, adiante mais, outra esbarrada. Caiu: chão e chumbo. Outro próximo prestimou-se a tentar içá-lo. — Salve primeiro as mulheres e as crianças! — protestou o Chico. — Eu sei nadar...
E conseguiu quadrupedar-se, depois verticou-se, disposto a prosseguir pelo espaço o seu peso corporal. Daí, deu contra um poste. Pediu-lhe: — Pode largar meu braço, Guarda, que eu fico em pé sozinho ... Com susto, recuou, avançou de novo, e idem, ibidem, itidem, chocou-se; e ibibibidem. Foi às lágrimas: — Meu Deus, estou perdido numa floresta impenetrável!
[...]
E foi de ziguezague, veio de zaguezigue. Viram-no, à entrada de um edifício, todo curvabundo, tentabundo. - Como é que o senhor quer abrir a porta com um charuto? ... Então acho que fumei a chave...
E, hora depois, peru-de-fim-de-ano, pairava ali, chave no ar, na mão, constando-se de tranquilo terremoto. — Eu? Estou esperando a vez da minha casa passar, para poder abrir ... Meteram-no a dentro.
E, forçando a porta do velho elevador, sem notar que a cabine se achava parada lá por cima, caiu no poço. Nada quebrou. Porém: — Raio de ascensorista! Tenho a certeza que disse: — Segundo andar!
E, desistindo do elevador, embriagatinhava escada acima. Pode entrar no apartamento. A mulher esperava-o de rolo na mão. — Ah, querida! Fazendo uns pasteizinhos para mim? — o Chico se comoveu.

Seu romance magistral, Grande Sertão: Veredas também se vale dessa característica, ambientado no Sertão, espaço, por excelência, de universalização do ser humano em sua obra.

Guimarães Rosa estilo caubói

A farta produção dramática também ambientada no espaço do Sertão é marcante ainda na produção de Ariano Suassuna. Sua obra mais famosa, "O auto da compadecida", foi encenada pela 1ª vez no Teatro de Santa Isabel, no Recife em 1956.
 Ariano Suassuna deitado no chão do saguão de um aeroporto, de boa. 

Ainda na produção poética, temos Mário Quintana, muitas vezes tomado à parte dessa geração. O escritor tem em comum com os autores de 45, além da cronologia, a extrapolação da linguagem no fazer literário, muitas vezes, a partir de aparentes simplicidades.

 Preciso comentar o cabelo classe A do Quintana?

Poeminha do Contra (Mário Quintana)
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!


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