MODERNISMO


O movimento Modernista é uma referência ao projeto estético que conduziu o fazer artístico nas artes brasileiras, especialmente na primeira metade do séc. XX, com amplas repercussões que nos alcançam contemporaneamente. Habitualmente, o movimento é dividido em três grandes momentos, delimitados cronologicamente e, cada um, com sua linhagem de escritores.


A Cuca - Tarsila (1924)

O Modernismo, especialmente em sua primeira geração, é o primeiro movimento artístico que não corresponde a um transplante de tendências ideológico-artísticas a terras brasileiras. Contudo, em sua gênese, os artistas que compunham a linha de frente desse movimento beberam amplamente em fontes das Vanguardas Artísticas Europeias do início do séc. XX: o Expressionismo (1905), o Cubismo (1907), o Futurismo (1909), o Dadaísmo (1916) e o Surrealismo (1924).



O Homem amarelo - Anita Malfatti (1916)

A pintora Anita Malfatti, em sua exposição de 1917, apresenta em São Paulo uma pintura que incorpora, para além do Impressionismo de fins do séc. XIX, traços evidenciados de dialógo com o contexto geral de inovação das Vanguardas. Sua exposição recebeu severa crítica de Monteiro Lobato, expoente literário, em seu artigo Paranoia ou Mistificação?, do qual citamos um breve trecho:

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem as coisas e em consequência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres.
[...]
A outra espécie é formada dos que veem anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.
[...]
Estas considerações são provocadas pela exposição da sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso & Cia.”


O tom de veemente depreciação é por demais acentuado, e tamanha virulência acaba ironicamente por se tornar fator de coesão a um grupo de jovens artistas que sai em defesa de Malfatti, encabeçados por Oswald de Andrade, depois Mário de Andrade, Menotti del Picchia e outros. A partir de 1919, Tarsila do Amaral estreitaria laços com os autores.

Cartazes de divulgação da Semana de Arte Moderna, de 1922 

Estava formada a base do que viria a ser a Semana de Arte Moderna de 1922, ano do centenário da Independência, logo, propício ao repensar da própria identidade nacional. O evento aconteceu entre 13 a 17 de fevereiro, quando os artistas referidos apresentaram sua arte moderna, sobretudo, à intelectualidade paulistana, sob a chancela do notabilizado pré-modernista Graça Aranha. O objetivo do evento era, claramente, chocar os presentes, ressignificando o próprio conceito de arte. 

As artistas Pagu, Elsie Lessa, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Eugênia Álvaro Moreyra.

Com esculturas e pinturas transgressoras, no Teatro Municipal de São Paulo, conferências de Graça Aranha, Menochi del Picchia, a declamação de "Os sapos", de Manuel Bandeira, crítica satirizante aberta aos parnasianos e Heitor Villa-Lobos apresentando-se de roupa formal e chinelo. O evento gerou ferozes críticas conservadoras, o que era, desde o princípio, seu objetivo. A partir desse momento, estavam abertas as portas que nos trariam, além dos autores da primeira geração modernista, contemporânea e participante dos acontecimentos relatados, toda um rol de imortais nomes da literatura brasileira do século XX, como: Carlos Drummond, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e tantos outros.

Heitor Villa-Lobos "Floresta do Amazonas"

O Modernismo Brasileiro é um movimento de amplo espectro cultural, desencadeado tardiamente nos anos 20, nele convergindo elementos das vanguardas acontecidas na Europa antes da Primeira Guerra Mundial -, Cubismo e Futurismo - assimiladas antropofagicamente em fragmentos justapostos e misturados. A predominância de valores expressionistas presentes nas obras de precursores como Lasar Segall, Anita Malfatti e Victor Brecheret e no avançar do nosso Modernismo, a convergência de elementos cubo-futuristas e posteriormente a emergência do surrealismo que estão na pintura de Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro e Ismael Nery. É interessante observar que a disciplina e a ordem da composição cubista constituem estrutura básica das obras de Tarsila, Antonio Gomide e Di Cavalcanti. No avançar dos anos 20, a pintura dos modernistas brasileiros vai misturar ao revival das artes egípcia, pré colombiana e vietnamita, elementos do Art Déco


Victor Brecheret em seu estúdio

São Paulo se caracteriza como o centro das idéias modernistas, onde se encontra o fermento do novo. Do encontro de jovens intelectuais com artistas plásticos eclodirá a vanguarda modernista. Diferentemente do Rio de Janeiro, reduto da burguesia tradicionalista e conservadora, São Paulo, incentivado pelo progresso e pelo afluxo de imigrantes italianos será o cenário propício para o desenvolvimento do processo do Modernismo. Este processo teve eventos como a primeira exposição de arte moderna com obras expressionistas de Lasar Segall em 1913, o escândalo provocado pela exposição de Anita Malfatti entre dezembro de 1917 e janeiro de 1918 e a 'descoberta' do escultor Victor Brecheret em 1920. Com maior ou menor peso estes três artistas constituem, no período heróico do Modernismo Brasileiro, os antecedentes da Semana de 22.

 
Documentário sobre a Semana de Arte Moderna

A Semana de Arte Moderna de 22 é o ápice deste processo que visava atualização das artes, e a sua identidade nacional. Pensada por Di Cavalcanti como um evento que causasse impacto e escândalo. Esta Semana proporcionaria as bases teóricas que contribuirão muito para o desenvolvimento artístico e intelectual da Primeira Geração Modernista e o seu encaminhamento, nos anos 30 e 40, na fase da Modernidade Brasileira.


A primeira geração modernista ou primeira fase do modernismo no Brasil é chamada de "fase heroica" e se estende de 1922 até 1930. Lembre-se que o modernismo foi um movimento artístico, cultural, político e social bem amplo. No Brasil, ele foi dividido em três fases, onde cada uma apresentava suas singularidades segundo o contexto histórico inserido.

A Semana de Arte Moderna de 1922 foi, sem dúvida, o marco inicial da estética moderna no Brasil. Esse evento, ocorrido em São Paulo no Teatro Municipal durante os dias 11 a 18 de fevereiro de 1922, representou uma ruptura com os padrões artísticos tradicionais. A Semana reuniu apresentações de dança, música, exposições e recitação de poesias. Ela chocou grande parte da população brasileira, por estar avessa ao tradicionalismo vigente, estabelecendo assim, novos paradigmas de arte. Os artistas envolvidos tinham como principal intuito apresentar uma estética inovadora, pautada nas vanguardas artísticas europeias (cubismo, futurismo, expressionismo, dadaísmo, surrealismo, etc.), iniciadas a partir do final do século XX. Os artistas modernistas que merecem destaque nessa primeira fase fizeram parte do chamado “Grupo dos Cinco”. Esse grupo esteve composto pelos artistas:

  •     Mário de Andrade (1893-1945)
  •     Oswald de Andrade (1890-1954)
  •     Menotti Del Picchia (1892-1988)
  •     Tarsila do Amaral (1886-1973)
  •     Anita Malfatti (1889-1964)

Importante lembrar que muitos artistas foram estudar na Europa, sobretudo em Paris (centro irradiador cultural e artístico da época) e trouxeram inovações no campo das artes.
Ainda que estivessem características das vanguardas europeias, o evento buscava apresentar uma arte mais brasileira (brasilidade). Por esse motivo, a primeira fase modernista priorizou temas pautados no nacionalismo, portanto na cultura e na identidade do Brasil.
Uma importante característica desse período de afirmação nacional foi a disseminação de diversos grupos e manifestos. Além disso, a publicação de algumas revistas auxiliaram na divulgação dos ideais modernos.
Dos grupos modernistas destaca-se:

  •     Pau-Brasil (1924-1925).
  •     Verde-amarelismo ou Escola da Anta (1916-1929).
  •     Movimento Antropofágico (1928-1929).
Das Revistas divulgadoras dos ideais modernistas as principais foram: a Revista Klaxon (1922-1923) e a Revista de Antropofagia (1928-1929).
Contexto Histórico
O modernismo foi um movimento artístico e literário que surge em muitos países no final do século XX.
Ele nasce no período denominado entre guerras, posto que a primeira guerra mundial ocorreu de 1914 a 1918 e a segunda de 1939 a 1945.
No Brasil, o período vigente é a primeira fase da República, chamado de República Velha (1889-1930). Esse contexto esteve marcada pelas oligarquias cafeeiras (São Paulo) e as oligarquias do leite (Minas Gerais).
Nesse momento, as oligarquias dominavam a cena política se alternado no poder e impedindo a eleição de indivíduos de outros estados.
Ademais, a queda da bolsa de Nova York, em 1929, resultou numa grande crise mundial refletida nas sociedades de diversos países.
Esse evento foi responsável pelo início da segunda guerra mundial e os governos totalitários que surgiram na Europa: nazismo, fascismo, franquismo e salazarismo.
Saiba mais sobre Modernismo no Brasil: Características e Contexto histórico.
Características
As principias características da primeira geração modernista são:

  •     Nacionalismo crítico e ufanista;
  •     Valorização do cotidiano;
  •     Resgate das raízes culturais brasileiras;
  •     Críticas à realidade brasileira;
  •     Renovação da linguagem;
  •     Oposição ao parnasianismo e ao academicismo;
  •     Experimentações estéticas;
  •     Renovações artísticas;
  •     Ironia, sarcasmo e irreverência;
  •     Caráter anárquico e destruidor;
  •     Uso de versos livres e brancos.
Principais Autores e Obras
Além do “Grupo dos Cinco” (Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti) outros artistas se destacaram nessa fase:

  •     Manuel Bandeira (1886-1968): escritor, professor, crítico de arte e historiador brasileiro. De sua obra poética destacam-se: A Cinza das Horas (1917), Libertinagem (1930) e a Lira dos Cinquent'anos (1940).
  •     Graça Aranha (1868-1931): escritor e diplomata brasileiro, sua obra de maior destaque é “Canaã” (1902).
  •     Victor Brecheret (1894-1955): escultor ítalo-brasileiro. O “Monumento às Bandeiras” (1953), na cidade de São Paulo é, sem dúvida, sua obra mais importante.
  •     Plínio Salgado (1895-1975): escritor, político e jornalista brasileiro e fundador do movimento nacionalista radical denominada “Ação Integralista Brasileira (1932), sua obra mais emblemática do período é “O Estrangeiro”, publicada em 1926.
  •     Ronald de Carvalho (1893-1935): poeta e político brasileiro, publicou em 1922 “Epigramas Irônicos e Sentimentais”.
  •     Guilherme de Almeida (1890-1969): escritor, jornalista e crítico de cinema brasileiro, publicou em 1922 a obra “Era Uma Vez…”.
  •     Sérgio Milliet (1898-1966): escritor, pintor e crítico de arte brasileiro, publicou em 1927 a obra “Poemas Análogos”.
  •     Heitor Villa-Lobos (1887-1959): maestro e compositor brasileiro, Villa Lobos é considerado o maior expoente da música moderna no Brasil. De suas composições com traços modernos destaca-se “Amazonas e Uirapuru” (1917).
  •     Cassiano Ricardo (1895-1974): escritor e jornalista brasileiro. De sua obra destaca-se o poema indianista e nacionalista, publicado em 1928, “Martim Cererê”.
  •     Tácito de Almeida (1889-1940): escritor, jornalista e advogado brasileiro, foi colaborador da Revista Klaxon onde publicou diversos poemas. Em 1987, foi publicado uma seleção de poemas na obra: “Túnel e Poesia Modernista 1922/23”.
  •     Di Cavalcanti (1897- 1976): pintor brasileiro, considerado um dos mais importantes representantes da primeira fase modernista. Foi ilustrador da capa do “Catálogo da Semana de Arte Moderna”, destacando-se com sua obra “Pierrot” (1924).
  •     Lasar Segall (1891-1957): nascido na Lituânia mudou-se para o Brasil em 1923. Foi pintor e escultor de influência expressionista, sendo suas obras mais representativas: o “Retrato de Mário de Andrade” (1927) e "Auto-retrato" (1933).
  •     Alcântara Machado (1901-1935): escritor, jornalista e político brasileiro, destaca-se sua coletânea de contos intitulada “Brás, Bexiga e Barra Funda”, publicada em 1927.
  •     Vicente do Rego Monteiro (1899-1970): poeta, pintor e escultor brasileiro, dentre suas obras temos: “Mani Oca (O nascimento de Mani)” (1921) e “A Crucifixão” (1922). 


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