ARCADISMO
O Arcadismo, também conhecido como
Setecentismo ou Neoclassicismo, é o movimento que compreende a produção
literária brasileira na segunda metade do século XVIII. O nome faz
referência à Arcádia, região do sul da Grécia que, por sua vez, foi
nomeada em referência ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto). Denota-se, logo de início, as referências à mitologia grega que perpassa o movimento.
An Autumn Pastoral 1749 - François Boucher
Profundas mudanças no contexto
histórico mundial caracterizam o período, tais como a ascensão do
Iluminismo, que pressupunha o racionalismo, o progresso e as ciências.
Na América do Norte, ocorre a Independência dos Estados Unidos, em 1776,
abrindo caminho para vários movimentos de independência ao longo de
toda a América, como foi o caso do Brasil, que presenciou inúmeras
revoluções e inconfidências até a chegada da Família Real em 1808.
O movimento tem características
reformistas, pois seu intuito era o de dar novos ares às artes e ao
ensino, aos hábitos e atitudes da época. A aristocracia em declínio
viu sua riqueza esvair-se e dar lugar a uma nova organizaçõ econômica
liderada pelo pensamento burguês.
Ao passo que os textos produzidos
no período convencionado de Quinhentismo sofreram influência direta de
Portugal e aqueles produzidos durante o Barroco, da cultura espanhola,
os do Arcadismo, por sua vez, foram influenciados pela cultura francesa
devido aos acontecimentos movidos pela burguesia que sacudiram toda a
Europa (e o mundo Ocidental).
No Brasil, vive-se o momento histórico da decadência do ciclo da mineração e da transferência do centro político do Nordeste (Salvador, na Bahia) para o Rio de Janeiro.
Aqui o marco inaugural do arcadismo deu-se em 1768 com a fundação da “Arcádia Ultramarina”, em Vila Rica, e a publicação de “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa. Embora não chegue a constituir um grupo nos moldes das arcádias europeias, constituem a primeira geração literária brasileira.
Nesta colônia portuguesa, as ideias iluministas vieram ao encontro
dos sentimentos e anseios nativistas, com maior repercussão em Vila
Rica, centro econômico mais importante à época, em função da mineração. A
figura do “bom selvagem” de Rousseau dará origem, na colônia, ao
chamado Nativismo. O acontecimento político mais importante será a Inconfidência Mineira,
tentativa mal-sucedida de libertar a província das Minas Gerais do
domínio colonial português. A politização do movimento apresentou-se
através dos poetas árcades brasileiros, participantes da Conjuração.
A chamada "Escola Setecentista" desenvolve-se até 1808
com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, que com suas medidas
político-administrativas, permitiu a introdução do pensamento
pré-romântico no Brasil.
Entre as características do movimento no Brasil, destacam-se a introdução de paisagens tropicais, como em Caramuru, valorização da história colonial, o início do nacionalismo e da luta pela independência e a colocação da colônia como centro das atenções.
Antonio Canova, "Eros e Psique", de 1794.
Os escritores árcades mineiros tiveram participação direta no movimento
da Inconfidência Mineira. Chegados de Coimbra com ideias enciclopedistas
e influenciados pela independência dos EUA, provavelmente não apenas
engrossaram as fileiras dos revoltos contra erário régio, que
confiscavam a maior parte do ouro extraído na Colônia, mais também
divulgaram os sonhos de um país independente e contribuíram para a
organização do grupo inconfidente. Esses escritores eram Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa. Do grupo apenas um
homem não tinha a mesma formação intelectual dos demais, nem era
escritor: o alferes Tiradentes (dentista Prático). Com a traição de Joaquim Silvério dos Reis, que devia vultosas somas ao governo
português, o grupo foi preso em 1789.
Todos, com exceção de Tiradentes, negaram
sua participação no movimento. Cláudio Manuel da Costa, segundo versão
oficial, suicidou-se na prisão antes do julgamento, mas não há confirmação de onde estão seus restos mortais. E vale lembrar que o Arcadismo no Brasil iniciou-se oficialmente com a publicação das Obras de Cláudio Manuel da Costa, em 1768.
O processo durou três anos. No julgamento,
vários inconfidentes foram condenados a morte por enforcamento, dentre
eles Tiradentes e Alvarenga Peixoto. Tomás Antônio e outros foram
condenados ao exílio temporário ou perpétuo. Tiradentes assumiu para si a
responsabilidade da liderança do grupo. No 20 de abril de 1792, foi
comutada a pena de todos participantes, excluindo Tiradentes, enforcado
no dia seguinte. Seu corpo foi esquartejado e exposto, em pedaços, no caminho que ia do Rio de Janeiro até Vila Rica;
seus bens, confiscados; sua família, amaldiçoada por quatro gerações; e o
chão de sua casa foi salgado para que dele nada mais brotasse.
Esse programa, com marionetes ensinando sobre a Inconfidência Mineira é impagável.
E há ainda o filme sobre Tiradentes que está disponível no Youtube.
Em Ouro Preto -MG, há o Museu da Inconfidência, onde estão os despojos de 16 inconfidentes identificados. O Panteão dos Inconfidentes foi inaugurado em 1942, para consagrar a ação cívica aos participantes da Inconfidência Mineira. No espaço, uma placa central registra o nome de todos os envolvidos no movimento.
Panteão dos Inconfidentes - Museu da Inconfidência
Ouro Preto/MG
Faz parte do Arcadismo brasileiro a lírica amorosa mais importante da língua portuguesa: Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga. O livro teve sua
primeira parte publicada no ano de 1792, em Lisboa. A obra pertence ao Arcadismo,
mas já apresenta características do Romantismo. Hoje é reiterada a ideia de que foi
o amor do autor por Maria Dorotéa
Joaquina de Seixas que inspirou a história. Refletido em Dirceu, Gonzaga
declara seus sentimentos pela amada.
Confira os vídeos sobre as cidades históricas de Minas.
Confira os vídeos sobre as cidades históricas de Minas.